Você já parou pra pensar por que algumas músicas aparente simples se tornam memoráveis e outras, mesmo com uma qualidade técnica altíssima, são um verdadeiro fracasso?

Todo produtor tem uma ambição de se tornar o mestre da mixagem, desvendar os segredos do compressor, do equalizador e de todos os plugins necessários para deixar suas músicas limpas, cristalinas, tridimensionais, com pressão, punch, peso, volume…

 

Queremos aprender a dominar os VSTs, criar os nossos próprios timbres irados ou criar os timbres parecidos com os de nossas referências.

 

Bem, isso não está errado…  mas não é suficiente!

 

Sim, para produzir músicas de alta qualidade, é necessário que você adquira um conjunto de habilidades em vários assuntos. Ser um produtor é ser um maestro, um engenheiro de áudio, um artista… É uma atividade muito nobre! (Mas, é claro, sou suspeito pra falar).

 

Embora você precise atingir um certo nível de maestria em vários assuntos, existem fatores que estão subjacentes à produção e que fazem toda a diferença! Na verdade, são esses fatores que diferenciam uma música OK de uma música memorável.

 

E a grande ironia é que, se você colocar esses ingredientes em sua música, mesmo que você não tenha atingido um alto grau de experiência em todos os assuntos da produção (mixagem, síntese sonora, masterização, teoria musical etc…), sua música ainda tem grandes chances de ser um estouro!

 

O que quero dizer é que é mais relevante você produzir uma música com os 6 ingredientes que vou descrever aqui do que uma música com qualidade técnica extrema, porém, sem os ingredientes.

 

Entretanto, se você somar os 6 ingredientes com qualidade técnica, o resultado será avassalador!

 

Ok… já falei demais! Você está querendo saber logo quais são esses 6 ingredientes secretos. Vamos lá!

 

 

Agora sim, vamos lá:

 

INGREDIENTE 1: GANCHO (HOOK)

É difícil encontrar uma definição exata para HOOK. Mas, pare por um segundo e dê o play na música abaixo:

Essa música tem algo que vai ficar na sua cabeça por séculos. O vocalzinho  “Pa panamericano”.

Isso é um hook!

Um hook pode ser um vocal, uma melodia, um groove de bateria, qualquer coisa. Mas algo que tenha o seu tempero. Algo que as pessoas ouçam e reconheçam.

O hook não é somente criar algo que seja “chiclete”, mas algo que torne a sua música reconhecível, singular.

Alguns artistas criam hooks tão poderosos que você ouve e já sabe que a música é deles. Um grande exemplo disso é o Stephan Bodzin.

O Stephan Bodzin possui essa característica de criar esses timbres com glide, cortantes, rasgados, com automações no cutoff, com uma cara bem analógica. Muitas vezes, você nem é capaz de identificar essas características mais técnicas, mas você ouve a música e sabe que é dele. Nessa música acima, tem um riff que se repete a música inteira. É muito marcante!

Um outro exemplo de um hook poderoso é a música Domino, do artista Oxia (eu tenho um vinil dessa track e tocava muito antigamente. Essa melodia do bass e do synth não sai da minha cabeça até hoje!):

 

Um último exemplo:

O Alok se tornou um grande mestre dos hooks. É claro!

Ele está produzindo música para as massas. Até a minha mãe conhece essa música. Se ela ouvir “Soy el fuego que…” ela vai saber que é do Alok.

Esse vocal é um hook fortíssimo, mas a melodia também!

ATENÇÃO: Geralmente, os hooks são simples. Ninguém fica com a 5ª Sinfonia de Beethoven na cabeça depois de ouvir.

Simplicidade é a chave! Melodias curtas. Poucas notas. Vocais claros, simples, engraçados, intrigantes, curiosos, sinistros…

Infelizmente, não existe uma fórmula para Hooks (ainda vou criar uma HO-HO!).

O que você precisa fazer é ter consciência que o hook existe e que ele é importante!

Comece a pensar nisso quando estiver produzindo!

 

INGREDIENTE2: ESPAÇO TRIDIMENSIONAL

Esse é o ingrediente mais técnico e exige um pouquinho de conhecimentos sobre mixagem.

A maioria das músicas de produtores iniciantes que eu ouço não explora as 3 dimensões com equilíbrio:

  • Altura
  • Largura
  • Profundidade

A altura pode ser definida como conteúdo espectral e dinâmica. A sua música precisa ter equilíbrio de frequências e dinâmica. Isso quer dizer que ela precisa ter graves, médios, agudos, médio-graves, médio-agudos… TODAS as frequências. Mesmo que você produza Forest-trance ou Dark-Techno.

A largura é a abertura estéreo da música. Aqui é um campo delicado! Se a música é aberta demais no estéreo, ela pode ter problemas de fase. Se é fechada demais, ela não explora as 3 dimensões.

A profundidade é como os elementos da sua música vão dar a noção psico-acústica de que estão mais pra trás, pra frente etc. É muito interessante trabalhar isso com delays, equalização, reverb etc.

Um grande exemplo de música tridimensional é o artista australiano Merkaba:

 

INGREDIENTE 3: STORYTELLING

A música tem que contar uma história e uma história tem começo, meio e fim. Parece óbvio, mas não é tão óbvio quanto parece.

Esse ingrediente é um dos mais negligenciados. Talvez por ser extremamente difícil de ensinar, sumarizar técnicas e também por ser muito subjetivo.

Pense em um capítulo de uma série ou um filme. A história começa, vai ganhando tensão, até chegar no clímax. No clímax você não consegue ir ao banheiro porque PRECISA saber o que vai acontecer, precisa saber como a história vai se desenrolar.

Depois do clímax, ocorre a resolução do conflito/tensão, tudo volta ao normal e a história vai caminhando para o fim. Durante a história toda, existem loops que são abertos (não tem nada a ver com loop da música tá). Esses loops, que se abrem e se fecham ao longo da história, te mantém conectado e atento o tempo todo.

Os produtores de filmes e séries são treinados para isso!

Agora, Eduardo, como eu faço para colocar história na minha música??

Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Não existe fórmula! Mas você precisa conhecer essas partes da história. Precisa entender que a sua música precisa ter um clímax, precisa ter a resolução do conflito, precisa ter início, fim…

O mestre Tetrameth entende da arte de criar histórias em suas músicas:

 

INGREDIENTE 4: TENSÃO X LIBERAÇÃO

Esse é um assunto que eu adoro! Aqui tem um artigo completasso que eu publiquei há um tempo sobre isso.

Sua música precisa criar tensão e essa tensão precisa ser liberada. A tensão pode ser dividida em micro-tensão e macro-tensão.

Um grande exemplo pra mim, nesse aspecto, é o Burn in Noise. Ele cria tensão e libera o tempo todo em suas músicas. Isso simplesmente rouba a atenção e você não consegue nem sair da pista pra pegar um drink.

Observe:

 

INGREDIENTE 5: EMOÇÃO

“Emoção” pode ser definida como o humor da sua música. Isso é você quem define!

Ela pode ser engraçada, tensa, sinistra, dark, introspectiva. Entender um pouco de teoria musical vai ajudar muito nesse aspecto!

Não quer dizer que a sua música precisa ter uma melodia bonitinha, que suscite o amor, paixão, arco-iris… nada disso!  Ela só não pode ser totalmente neutra, sem sal e sem açúcar.

Mas, dando um exemplo de uma música com uma melodia bonitinha que desperta uma emoção incrível (acho que vou usar ela no meu casamento) é a 1987 do Ticon:

Essa música está entre as Top10 ever pra mim! Eu ouço e me vem filmes do passado na cabeça, experiências incríveis que eu já passei, momentos felizes, realizações…

Conseguir provocar isso tudo através de uma música é surreal!

Desculpe por, talvez, te frustrar e não oferecer uma solução prática para construir cada um desses elementos. Mas o mais importante é você criar a CONSCIÊNCIA da existência de cada um deles! Isso é o mais importante. O resto é com você!

Enfim, o último ingrediente:

 

INGREDIENTE 6: CONTRASTE

O contraste torna as coisas interessantes. Na gastronomia, na fotografia e na música!

Você pode criar contrastes em diversas seções da sua música. Contraste de tensão X liberação, caos X ordem, timbres abertos x timbres fechados, sutileza x agressividade. Use a sua criatividade!

Na música Moan, do Trentemoller, observe o contraste que ocorre aos 4 minutos. A música vem caminhando com uma sutileza e nesse momento, tudo fica tenso, agressivo. No minuto 5:40, volta para a sutileza.

 

Conclusão

Se você observar as músicas dos grandes artistas, vai perceber que, em sua grande maioria, eles utilizam esses ingredientes com maestria. Você não precisa ficar paranóico com isso, mas como eu já disse, tenha a consciência de que eles existem e tente inseri-los em suas músicas.

No meu programa de Mentoria em Grupo – HIT-MAKERS SOCIETY, a gente se aprofunda bastante nesses 6 ingredientes. Se você acha que está pronto para ir para o próximo nível, confira o programa. 


eduardojuliato

Eduardo Juliato se apaixonou pela música eletrônica em 2004, quando começou a frequentar as primeiras raves. Em 2005 começou a sua carreira como DJ e em 2009 como produtor. Em 2014 fundou a PME-Experts, uma escola online de produção de música eletrônica que hoje possui mais de 10 cursos e já ultrapassou os 2700 alunos. Seus conteúdos impactam semanalmente cerca de 30 mil pessoas nas redes sociais. Com seu projeto Sakyamuni, focado em Progressive Psytrance, tem lançado em importantes selos internacionais, como a Zenon Records, Soulectro e Weapon e tem se apresentado em todo o Brasil e em outros países como Peru, Bolívia e República Tcheca.

1 comentário

Robson Da Silva · 03/08/2017 às 8:16 pm

Sensacional Edu! Parabéns e obrigado por compartilhar!

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