Você já parou pra pensar por que algumas músicas roubam a atenção das pessoas e as fazem dançar que nem malucas, quase que involuntariamente?

Algumas músicas tem o poder de causar arrepios, provocar emoções, desencadear sentimentos, tornando-se assim memoráveis!

Mas a grande pergunta é: Como criar músicas assim? 

Bem… essa não é uma questão fácil de responder. Mas uma coisa é certa.

Esses atributos estão intimamente relacionados ao equilíbrio perfeito entre 3 ingredientes invisíveis: Tensão, Energia e Emoção.

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Eu digo que são invisíveis porque, quando você está construindo a sua música, você não fica pensando “vou colocar uma dose extra de energia aqui” ou “deixa eu colocar mais uma dose de tensão aqui…”. Você não abre um canal e escolhe um plugin de tensão e energia. Você não fala “vou colocar mais 50 centavos de emoção…”

Esses elementos são subjetivos. Mas, se você ignorá-los, estará correndo um sério risco de produzir músicas cansativas, repetitivas, chatas e com um alto potencial em dispersar a atenção do espectador.

Além disso, esse é um assunto muito pouco explorado em cursos de produção e tutoriais. Até mesmo os produtores experientes não dominam tecnicamente esse tema, simplesmente porque nunca estudaram. Na maioria das vezes, aprende-se na prática, testando, observando o que funcionava na pista, observando a reação das pessoas, o engajamento e, acima de tudo, estudando as músicas de outros produtores.

Aliás, esse é um excelente exercício. Principalmente quando você está na pista de dança e tem a oportunidade de observar, na prática, a relação entre as características de uma música e os seus efeitos nas pessoas.

Com isso, fica difícil para o produtor iniciante, que não teve ainda a experiência de testar as suas músicas nas pistas, aprender sobre esses 3 importantes e maravilhosos ingredientes da música eletrônica (e não-eletrônica também).

A boa notícia é que esse assunto é meu objeto de estudo há anos. Além dos mais de 10 anos vivendo esse universo da música eletrônica, o que me trouxe um certo conhecimento sobre a relação música X dancefloor, eu faço deste estudo uma prática diária e, ao longo do tempo, consegui reunir e sistematizar alguns conceitos para que você possa aplicar na prática a partir de agora e construir músicas muito mais interessantes.

Neste artigo, você vai aprender: 

  • O que é tensão
  • A diferença entre macro-tensão e micro-tensão
  • 25 técnicas poderosas para gerar tensão
  • Técnicas para gerar liberação (release)
  • Como trabalhar a energia durante a música
  • Emoção: Como definir o sentimento e o humor da sua música

Ao final deste artigo, você vai estar preparado para escrever músicas muito mais interessantes e com o poder de roubar a atenção dos seus espectadores.

Parece interessante? Então, compartilhe esse post com seus amigos, pois este é o primeiro guia em português sobre a tríade Tensão, Energia e Emoção.

O que é Tensão?

A tensão, como foi muito bem referenciada pelo meu colega Sam Matla em seu esplendoroso artigo, pode ser definida como a necessidade percebida de liberação (ou release).

O que acontece quando você está assistindo uma cena de perseguição em um filme de suspense e a tensão começa a aumentar? A trilha sonora vai criando mais expectativa, a energia vai aumentando, você aperta a almofada do sofá, prende a respiração, as pupilas dilatam, há uma descarga de adrenalina…  ALGO PRECISA ACONTECER!

Cena do Filme - Psicose (1960)

Cena do Filme – Psicose (1960)

Gerar tensão é roubar a atenção do espectador. Guarde essa frase:

TENSÃO GERA ATENÇÃO

Portanto, tensão é suspense, é mistério, é uma questão a ser respondida. E o espectador quer saber a resposta mais do que qualquer coisa na vida.

É aqui que entra o poder mágico do produtor. É você que escolhe quando vai “soltar” a resposta. Você pode deixar a pista de dança se contorcendo por quanto tempo você quiser. A responsabilidade é sua!

Existe um artista chamado Justice. Ouça a música STRESS (abaixo). Ela é pura tensão! Não existe um momento de liberação/release. Você fica esperando uma resposta a música inteira… e ela nunca chega!

Portanto, cabe a você definir a relação entre tensão X liberação em sua música. Em outras palavras, você vai definir quanto tempo você vai “torturar” o seu espectador antes de entregar o que ele quer… o DROP, por exemplo.

Esse equilíbrio é o que você deve buscar. Cada vertente da música eletrônica e seus respectivos públicos tem as suas particularidades. Sendo assim, um bom caminho a seguir é estudar as músicas de artistas referência e, mais ainda, observar o efeito das suas músicas diretamente do dancefloor.

Earthdance festival - Capetown

Earthdance festival – Capetown

Tudo isso pode parecer um tanto confuso e subjetivo pra você nesse momento. Mas, não se preocupe. Vamos falar detalhadamente – e objetivamente, sobre como conseguir trabalhar com todos esses ingredientes secretos da música eletrônica. Continue lendo…

Eu me lembro de uma viagem que fiz à República Tcheca, em um festival que fui tocar, chamado Funny Moon. Quando saí do festival, um casal austríaco me deu carona até a estação de trem. E o carinha que estava digirindo, orgulhoso, me disse: “Olha só, um amigo meu começou a produzir e me deu a primeira música que ele fez. Escute só, é muito legal!”

E ele colocou aquele CD que só tinha uma música. A música era uma espécie de Minimal-Techno com 16 minutos. Do jeito que a música começava, ela terminava. Nada, absolutamente nada acontecia naquela música. E eu ficava olhando para o som do carro, vendo os minutos passando e nada de novo acontecia na música. Aquilo foi praticamente uma tortura chinesa pra mim. A estação de trem estava há 50 km do festival e ele gostava tanto daquela música que deixou no repeat durante toda a viagem.

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Enfim, lembrei dessa história agora porque, definitivamente, aquele produtor não sabia o que era tensão!

Mas, você é diferente e já sabe muito bem o que é tensão e o que ela causa nas pessoas. Agora, vamos dar um passo além. A tensão pode ser dividida em Macro-Tensão e Micro-Tensão. Vamos falar sobre cada uma delas nos tópicos a seguir e também vou dar exemplos práticos para você começar aplicar imediatamente após a leitura deste artigo.

Macro-Tensão

Não tem como falar de macro-tensão sem antes definir quais são as partes de uma música eletrônica.

mapa da energia

Mapa da energia

A maioria das músicas eletrônicas é composta pelos blocos representados na figura acima.

Geralmente, temos:

Introdução -> Build Up -> Drop/Verso1 -> Breakdown -> Build Up -> Drop/Verso2 -> Outro. 

Estes são os blocos constituintes de uma música eletrônica. É claro que não precisa ser exatamente desse jeito. A música pode ter mais de 1 break e quantos versos o produtor quiser. Ela pode também não ter break nenhum. Mas essa é a configuração mais comum que se vê na maioria das produções.

Enfim, agora que você já sabe que a música é composta por grandes blocos, já podemos falar sobre a macro-tensão.

A macro-tensão é a tensão construída ao longo de um bloco, que tem o objetivo de criar uma expectativa de que um novo bloco irá surgir. Por exemplo, durante todo o bloco Introdução + Build up, cria-se uma tensão e expectativa de que algo irá surgir: o primeiro Drop (ou Verso 01).

Outro exemplo. Durante todo o Verso 01, cria-se tensão e expectativa para o breakdown.

Mais um exemplo. Durante a build-up, se constroi (muita) tensão e expectativa para o drop. Aliás, a build-up, é o maior exemplo de macro-tensão.

Você entendeu a ideia… 

Macro-tensão, portanto, é a tensão construída ao longo de um bloco, que tem por finalidade, criar expectativa para o surgimento de um novo bloco.

Normalmente, a macro-tensão é construída através de:

  • Snare-rolls
  • Risers (white-noise, pitch-riser…)
  • Tensão harmônica
  • Adição ou remoção de camadas de elementos
  • Remoção de frequências
  • Etc.

Eu construí um pequeno loop em 10 minutos só para mostrar o papel de cada elemento no desenvolvimento da macro-tensão.

Nesse caso, fiz uma introdução (rudimentar, não reparem na qualidade) de 16 barras ou 64 beats.

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Na primeira frase de 32 (primeiras 8 barras), podemos notar a presença do “LOOP PERC” e de um CHORD com delay (em verde). Nas duas últimas barras dessa frase entra o elemento LOOP UP e o CRASH REVERSE.

Esses 2 últimos elementos entraram só para criar uma pequena tensão extra, sinalizando que chegou o final de uma frase de 32.

A partir da nona barra, começa uma build up, de fato. Entra um novo hi-hat (LOOP HH), um SNARE ROLL, um SWEEP (uplifter), um loop com automação no pitch (LOOP UP) e um CRASH REVERSE.

Além disso, vários elementos receberam automação no filtro (LOW-CUT), como você pode ver na imagem abaixo.

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Sendo assim, podemos considerar que nesse bloco (INTRO + BUILD UP) rudimentar e tosco que eu construí, existem vários elementos que contribuem para um aumento progressivo de tensão.

Esses elementos incluem:

  • Loop de percussão com automação no filtro
  • Loop de hihats com automação no filtro
  • Snare roll
  • Uplifter
  • Loop de perc com automação no pitch
  • Reverse crash

Observe que o aumento de tensão é progressivo. A cada barra, a tensão aumenta.

Na barra 17 (após 2 frases de 32 beats) entram o KICK e o BASS e todos os elementos sem filtro. Esse é o DROP!

Ok, não foi a melhor música que você já ouviu na vida.  Mas foi só um exemplo.

Vamos analisar um exemplo melhor, da fantástica dupla Flow & Zeo.

A música começa com o kick, uma ambiência, um clap e um open hat.

  • 0:16 – Entra um hihat
  • 0:34 – Entra um riff com automação no cutoff
  • 0:48 – Sai o kick, entra um riser, um vocal e o clap recebe alguns delays (dando um efeito de snare roll, porém no clap).
  • 1:02 – O clap é retirado
  • 1:04 – Drop

Podemos notar que, com toda sutileza e finesse características do projeto, eles utilizam as mesmas técnicas para criar tensão: filtro, “snare” roll, riser, delays, automações em filtros etc.

Se você começar a analisar inúmeras músicas, vai começar a identificar esses mesmos padrões.

A macro-tensão não precisa ser linearmente progressiva.

Não é porque você está trabalhando a macro-tensão que ela precisa ser uma coisa crescente e linear o tempo todo. Se você observar inúmeras músicas, principalmente introduções e build-ups, você vai perceber que existem subidas e descidas, que acabam enganando o espectador e isso é incrível!

Durante uma build up, você pode criar uma tensão e expectativa de que o drop vai entrar, mas de repente, a tensão diminui e começa a crescer de novo.

Você pode observar essas variações na introdução da música Enjoy The Silence (Alok e Gabe RMX).

Agora, eu quero propor um exercício para você fazer depois de ler esse artigo (depois, não agora, ok? Agora termine de ler o artigo…)

Muito bem, eu acho que você já sabe o que é macro-tensão e como trabalhar com ela (mais à frente ainda vamos falar sobre algumas técnicas para gerar tensão).

Micro-Tensão

A micro-tensão pode ser definida como pequenas variações, quebras de padrão, alterações no flow, alterações na melodia, na harmonia, na construção, qualquer coisa que altere o modo como as coisas estão acontecendo na música.

Essas pequenas quebras de padrão tem um efeito poderoso para manter a atenção do espectador no nível máximo durante toda a sua música.

Sabe aqueles professores que estão explicando uma matéria e, depois de alguns minutos, a sala começa a se dispersar e aí eles soltam um assovio, um grito ou uma palma para chamar a atenção de todo mundo de novo? É mais ou menos isso!

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Uma vez eu fui a uma palestra em que o palestrante, toda vez que percebia que a galera estava se dispersando, gritava “HIP HIP” e a gente tinha que responder “HURRAA!!!”. Ele ficava o tempo todo assim. E o engraçado é que isso realmente funciona!

Funciona porque é uma quebra de padrão. Ele está falando de uma coisa e a coisa que você menos espera ouvir naquele momento é um grito “HIP HIP”.

Na sua música, as variações de micro-tensão podem incluir:

  • Fills (virada de bateria) no final de uma frase
  • Retirada dos últimos 4 kicks de uma frase de 32
  • Reverse Crash
  • Alteração na melodia/harmonia
  • Filtro
  • Alteração no pitch
  • Etc

Quem é DJ, aprendeu a contar 8 barras (ou 32 beats), para encaixar uma segunda música. Isso porque na música eletrônica, as coisas acontecem a cada frase 32 beats. É como começasse um novo capítulo da história a cada frase dessa.

E é muito interessante que você promova alguma variação de micro-tensão no final de uma frase de 32, pois é como se isso ajustasse a mente do espectador (e do dj) e dissesse “está começando um novo ciclo na música, vamos começar todos juntos”.

Na figura abaixo, você pode observar um trecho de uma música minha.

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Na barra 112, você pode notar que eu retirei o kick e o baixo e adicionei também um fill (em amarelo). Antes de sair o kick, eu ainda adicionei um pequeno uplifter.

Na volta (barra 113) eu coloquei um crash e um chord, que são elementos de liberação. Então eu crio uma expectativa durante uma barra, quebro o padrão e depois libero. Essa relação tensão X liberação faz com que as pessoas mantenham a atenção o tempo todo ligada. Você pode ouvir esse trecho abaixo.

Eu sempre gosto de fazer essas variações de micro-tensão quando vai entrar algum novo elemento na música, como um hihat, uma caixa, elementos de bateria, melodia etc.

Desta forma, os elementos não entram bruscamente. É como se “alguém” os convidasse a entrar.

25 Técnicas Poderosas Para Gerar Tensão!

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Existem os elementos clássicos e até clichês que causam tensão, tais como o noise-sweep ou o snare-roll. Mas, o fato é que as possibilidades são infinitas. Como eu já disse, a melhor maneira de aprender sobre esse assunto é analisando friamente as músicas que são referências para você.

Fiz uma breve compilação de técnicas que você pode usar para gerar tensão (tanto macro, como micro):

  1. Alteração no pitch
  2. Alteração no balanço de frequências (filtrar graves ou agudos)
  3. Tensão harmônica (estude progressão de acordes)
  4. Tensão melódica (experimente alterar o padrão ou o ritmo da melodia)
  5. Alteração no ritmo (imagine um triplet no final de uma frase de 32)
    • Eu sempre faço variações no snare no meio e no final de uma frase de 32
  6. Silêncio (sim, o silêncio é uma quebra de padrão e gera tensão)
  7. Automação no filtro Cutoff (em synths)
  8. Automação no overdrive do filtro
  9. Automação na ressonância do filtro
  10. Delays (automação no feedback ou no Wet/dry)
  11. Automação no LFO
  12. Chorus
  13. Volume
  14. Reverb (automações no wet/dry e no decay)
  15. Compressão com side-chain
  16. Fills (viradas de bateria)
  17. White-noise
  18. Vocal Stab
  19. Snare Roll
  20. Efeitos “glitch”
  21. Reverse kick
  22. Reverse bass
  23. Reverse crash
  24. Reverse reverb
  25. Kick solo

E a liberação (release)? 

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Toda vez que vai entrar um elemento novo em sua música e você criou tensão antes de sua entrada, esse elemento pode funcionar como liberação. Ou seja, criamos expectativa que algo aconteceria e aconteceu! Simples…

No entanto, existem outros elementos que podem ser usados como liberação, tais como:

  1. Chord (ou chord + delay)
  2. Crash (clássico)
  3. Ride
  4. Synths
  5. Elementos percussivos
  6. Elementos com reverb

Importante

Você deve ser orientado pelo seu feeling. Sempre que gerar tensão, observe se a liberação está condizente e vice-versa.

Um problema muito comum de todo produtor iniciante é criar build-ups fracas demais comparadas ao drop ou o contrário (drops fracos demais para build-ups com muita tensão. Isso é frustrante para o expectador). O vídeo abaixo satiriza esse fato:

Solução de problemas

Vamos dar alguns exemplos:

  1. Se o drop é “forte” demais comparado à build up. 
  • Criar mais tensão na build-up (com as técnicas que você já aprendeu)

2. Se o drop é “fraco” demais comparado à build up

  • Adicionar elementos de liberação no drop (crash, chord, synths…)
  • Reduzir o volume da build-up
  • Retirar elementos da build-up

Isso não é uma regra, ok? Mas o que você deve se preocupar é com o equilíbrio. Se você cria uma certa tensão e expectativa, a resposta deve ser à altura.

Menos é mais!

Nem sempre o número de elementos é proporcional ao nível de tensão. É muito comum o produtor encher a build-up (ou qualquer outra parte) de elementos, afim de gerar muita tensão, mas o efeito não acontece. Sendo assim, experimente sempre retirar alguns elementos e ver se a sua música fica melhor sem eles. Não se apegue!

A PERFEIÇÃO NÃO É ALCANÇADA QUANDO NÃO

3. Que tamanho deve ser a minha build-up? 

Essa é uma questão que eu, honestamente, não sei a resposta. Tudo vai depender do seu bom senso. Build-ups extremamente longas tendem a ser chatas. Build-ups muito curtas não têm tempo de gerar muita tensão. O “caminho do meio” é sempre o conselho que eu dou para os meus alunos do Programa Top Produtor.

Ouça a sua música, peça opiniões, teste na pista (se tiver oportunidade) e, principalmente: nunca se apegue a ela. Tenha humildade de reconhecer que a criação que você tem tanto orgulho não está 100%.

Eu mesmo já errei muito criando breaks muito longos. E eu não percebia nada de errado até tocar as músicas e ver que a pista estava se dispersando muito com aqueles breaks infinitos. E não é só com as minhas músicas que eu percebi isso. Tocando músicas de outros artistas (renomados) como DJ, eu pude notar a mesma coisa.

Resumindo, para saber o tamanho perfeito de uma build-up é necessário feeling + prática. Não se preocupe tanto com isso agora.

Energia

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É difícil falar sobre esse conceito porque ele se refere a inúmeras coisas dentro da música. Eu sei que existem outros aspectos que podem ser incluídos na categoria “energia”, mas nesse caso, estamos nos referindo à energia DINÂMICA.

Como mencionado por Zac Citron no livro Electronic Music Arrangement: How to Arrange Electronic Music,  “a energia é a força vital da sua música, é o estímulo, a velocidade, a intensidade e o pulso. A energia na sua música é como o sangue que está sempre fluindo”.

Se entendemos que cada elemento ocupa um lugar no espectro de frequências por um determinado período de tempo e que cada frequência possui uma respectiva quantidade de energia, em tese, quanto mais elementos temos ocupando o espectro (e por mais tempo), maior a quantidade de energia.  Ok, isso parece confuso, mas vou exemplificar.

Você tem o kick e o bass ocupando as frequências de 30-250Hz, o snare ocupando as frequências de 250Hz a 500Hz, uns chords de 500Hz a 1kHz e uns pratos de 1kHz a 10kHz. Quanto mais o seu espectro é preenchido, maior a quantidade de energia você tem naquele momento.

Todavia, o snare, por exemplo, não é constante, ele aparece na música em um intervalo de tempo. Enquanto ele não aparece, aquele lugar no espectro não está preenchido. Isso quer dizer que o ritmo, a velocidade, a frequência com que o elemento vai aparecer na música também está relacionado à quantidade de energia. É por isso que um snare roll tem muito mais energia do que o snare normal. É por isso que um hihat corrido (1/16) tem mais energia do que um hihat no contratempo apenas.

Frequências mais baixas tem mais energia 

Isso é física! E é por isso que o DROP é composto, principalmente por kick e bass.

E é por isso que o kick e o bass são as primeiras coisas que você retira quando que diminuir a energia.

No vídeo abaixo, o Zac Citron explica na prática como aumentar e diminuir a energia através da adição/remoção de elementos e também com a manipulação de parâmetros, como o Cutoff (se o cutoff controla a quantidade de harmônicos, quanto mais o abrimos, mais estamos permitindo que o espectro seja preenchido e maior a quantidade de energia). O vídeo está em inglês, me desculpe!

A energia está tão relacionada à tensão que, às vezes, é difícil separar as duas. Entretanto, elas não são igualmente proporcionais. Eu posso ter um kick e um bass, que não tem muita tensão, mas tem muita energia, ao passo que um simples uplifter pode criar bastante tensão sem ter muita energia.

Na figura “Mapa da Energia” no início desse artigo você pode observar os níveis de energia comuns em cada parte da música.

Emoção

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A emoção de uma música é um aspecto subjetivo, pois é interpretada de maneira única por cada espectador, em cada determinado momento.

Mesmo assim, é seu papel determinar o aspecto emocional da sua música, qual a mensagem que ela quer passar, qual o seu humor, qual sentimento você quer despertar nas pessoas.

As duas maneiras mais óbvias de você criar emoção com a sua música é com a melodia e a harmonia. No entanto, eu costumo elencar uma terceira forma, que são os vocais – o que a sua música fala. Eu, particularmente, gosto de passar mensagens positivas em minhas músicas. Sempre busco documentários, podcasts etc em que as pessoas falam sobre elevação da consciência, meditação e coisas desse tipo. Mas, isso é muito particular meu. Você não precisa fazer isso, ok?

Não fuja da Teoria Musical 

Saber um pouco de teoria musical vai lhe ser útil, tanto para criar tensão, como para controlar a carga emocional da sua música.

Portanto, esse é um estudo que muitos produtores negligenciam, mas que todos aqueles que produzem músicas memoráveis estudam. Isso é fato!

Estudar teoria te dá liberdade de fazer escolhas intencionais dentro da música.  Por exemplo, sabemos que escalas maiores TENDEM A SER mais felizes ao passo que escalas menores TENDEM A SER mais dark e introspectivas. Isso não é uma regra, mas uma tendência (antes que os sabidões venham criticar esse artigo).

Sendo assim, você precisa conhecer algumas escalas, notas, intervalos, acordes etc. Pelo menos o básico!

Eu gravei uma aula bem simples de entender sobre esse assunto que você pode ver no vídeo abaixo.

Conclusão

O perfeito equilíbrio entre tensão, energia e emoção está intimamente relacionado à maestria de uma produção musical.

Concentre-se em entender cada vez mais sobre essa tríade através do estudo dedicado das músicas de produtores referência e também de teoria musical. No entanto, respeite o seu desenvolvimento sem se julgar ou se culpar, caso os seus resultados não atinjam os seus objetivos logo de cara. Produzir música eletrônica é uma tarefa multi-facetada e que exige disciplina e muita dedicação.

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eduardojuliato

Eduardo Juliato se apaixonou pela música eletrônica em 2004, quando começou a frequentar as primeiras raves. Em 2005 começou a sua carreira como DJ e em 2009 como produtor. Em 2014 fundou a PME-Experts, uma escola online de produção de música eletrônica que hoje possui mais de 10 cursos e já ultrapassou os 2700 alunos. Seus conteúdos impactam semanalmente cerca de 30 mil pessoas nas redes sociais. Com seu projeto Sakyamuni, focado em Progressive Psytrance, tem lançado em importantes selos internacionais, como a Zenon Records, Soulectro e Weapon e tem se apresentado em todo o Brasil e em outros países como Peru, Bolívia e República Tcheca.

41 comentários

Leandro Henrique · 23/02/2016 às 12:59 am

Excelente matéria6, estou aprendendo e melhorando a cada dia, parabéns pelo blog Eduardo!!!!!!

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 1:01 am

    Valeu Leandro!! Tamo junto!

Fábio · 23/02/2016 às 1:12 am

Parabéns pela matéria Eduardo, muito bem explicada e simples de entender!

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 9:57 am

    Que bom que curtiu, Fábio!! =)

Jader Murilo · 23/02/2016 às 2:47 am

Mestre como sempre. Esse gosta de ensinar eim, além do conteúdo ser de altissima qualidade. Admiro demais seus conteúdos. Parabens Eduardo !

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 9:58 am

    Valeu Jader!! Realmente, essa é uma coisa que eu gosto de fazer! =)

Rejan · 23/02/2016 às 3:35 am

Caraca man…. Muito massa o conteúdo, se aprofundou no tema de uma forma que eu não tenho nem uma forma de explicar que foi isso. A cada exemplo deixa muito mais claro cada conteúdo. Parabéns pelo blog ai esta massa.

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 9:58 am

    Que bom que aproveitou aqui, Rejan! Abraço!

RomeroMarcius · 23/02/2016 às 7:55 am

Artigo muito bem explicado, didaticamente, conforme sempre faz Eduardo Juliato! Mais uma vez, meus parabéns!

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 9:59 am

    Salve Romero! Obrigado!

Marcio Tarta · 23/02/2016 às 11:44 am

Da hora o artigo Edu
É realmente empolgante ver o quanto vc vem ajudando novos produtores e instigando o estudo dessa galera!!
Tamo junto irmão obrigado por acrescentar conhecimento nessa história!!!

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 11:57 am

    Salve, Tarta!! Valeu irmão! Tamo junto!

Luiz · 23/02/2016 às 2:10 pm

Juliato, eu já produzia dessa forma, mas saber o nome técnico de cada detalhe, torna o processo mais profissional. Parabéns pelo curso e obrigado por dividir seus conhecimentos!

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 5:50 pm

    Pois é, muita gente sabe mas não sabe que sabe heheh
    É porque são coisas realmente intuitivas. Mas a ideia é sempre tentar transformar o conhecimento em algo palpável.
    =)
    Valeu

rafael melo · 23/02/2016 às 3:17 pm

Parabens Eduardo, seu trabalho tem nos ajudado muito no desenvolvimento enquanto produtor. O caminho é árduo, de fato. mas dia após dia estaremos lá!

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 5:49 pm

    Isso aê! Não desista! Valeu!

Rodrigo Fróes · 23/02/2016 às 5:22 pm

Caro Eduardo, parabéns pelo artigo! Estou correndo atrás do meu interesse como produtor e, mesmo não sendo da praia da música eletrônica, achei seu artigo interessantíssimo e preenchido com links igualmente informativos. Muito obrigado!

Quanto ao Sam Matla, ele mencionou um artigo sobre tensão musical em um podcast que eu ouço, o “Composer Quest”. Talvez você já tenha lido nos seus estudos, mas segue o link: https://www.nyu.edu/projects/farbood/pdf/Farbood_2012_Musical_Tension.pdf

Um abraço!
Rodrigo

    eduardojuliato · 23/02/2016 às 5:48 pm

    Fala Rodrigo!! Obrigado pelos feeds!! Sem dúvida, o Sam Matla é um cara que faz um trabalho fantástico. Eu acompanho ele sempre.
    Valeu!

Cleiton Medina · 24/02/2016 às 1:31 am

Muito bom! Fico feliz de ter alguém que esclareça algumas dúvidas minhas mesmo que a internet aqui onde moro seja algo raro e difícil de se ter acesso. A chama continua acesa aqui e muito devo aos seus materiais Eduardo Juliato! Com certeza estou melhorando minhas produções! Muito sucesso pra você!

    eduardojuliato · 24/02/2016 às 7:20 pm

    Eu que fico feliz em poder ajudar de alguma forma! Grande abraço!

Leandro Soares · 24/02/2016 às 2:05 am

Mais um excelente Post, Muito obrigado Juliato .

    eduardojuliato · 24/02/2016 às 7:20 pm

    Valeu, Leandro! =)

George (Phobos) · 24/02/2016 às 3:07 am

Parabéns Eduardo pelo blog, eu já havia assistido o Webnário dessa aula e com o blog explicando mais ainda, ficou ainda mais fácil a compreenção do que havia mencionado no webnário… Continua e “Tamos Juntos”… Abraços!!!

    eduardojuliato · 24/02/2016 às 7:20 pm

    Que bom que você assistiu lá!! =)
    Um abraço!!

Lucas Castro · 29/02/2016 às 1:22 pm

Quer o universo continue emanando toda essa energia para você pelo resto de sua vida, você esta ajudando muita gente, espero que continuem sempre com esse trabalho maravilhoso!

    Lucas Castro · 29/02/2016 às 1:23 pm

    que*

    eduardojuliato · 01/03/2016 às 5:27 pm

    Hey Lucas! Muito obrigado pelos comentários! =)

Leandro · 25/08/2016 às 9:31 pm

Muito bom brow, esclareceu muitas coisas. Parabéns pelo trabalho!

Rui · 08/12/2016 às 11:51 am

Interessante.

paulo · 03/01/2017 às 6:10 pm

muito bom seu artigo

João vitor · 12/01/2017 às 9:37 pm

muito bom o seu artigo

janete · 15/01/2017 às 8:40 pm

otimo artigo

Guilherme Medeiros · 16/01/2017 às 1:38 pm

Ficou mto foda esse post.
Obrigado por compartilhar,esse é o flow.
Muito sucesso manim!

Abraço!

lucas marinho · 16/01/2017 às 10:23 pm

ai eduardo muito obrigado por tudo que vc ensinou ate aqui, todos os produtores que conheço notam a diferença na minha musica, com as coisas que aprendi vendo seus sites e seu canal, eu nao só consegui produzir, mas ter originalidade nas minhas produções, obrigado meeesmo

Diego Thiré · 17/01/2017 às 10:03 am

Valeu Eduardo, otimo artigo, muito obrigado por mais esse conteudo…

Janetre · 30/01/2017 às 6:50 pm

muito bom o seu artigo

Felipe Careli · 22/02/2017 às 9:57 pm

Muito obrigado por compartilhar o conhecimento irmão!! Apanhei muito produzindo e aprendendo sozinho antigamente, e vc é o cara que eu sonhava ter conhecido naquela época. Parei por muitos anos e a chama da produção está reacendendo e vc é muito responsável por isso, de volta aos estudos e produções!! Abraços

Sybel Calmon · 27/04/2017 às 7:54 pm

Fala Eduardo, tudo bem querido? primeiro, adorei o blog e os conceitos trazidos a tona de uma maneira irreverente e objetiva. Tenho Mestrado em Mixagem e Masterizacao pela Universidade de Milão na Itália. Fiz um estudo similar ao seu porem explorando exatamente o campo da “tensao” e como o potencial de “catalização hipnótica” (Gestalt, 1921) ‘e bem maior. A arte não pode ser delimitada numa formula unica, a musica e arte e não poderia ser delimitada nesse formato e ordem muito menos. O que ‘e “tortura chinesa” para alguns, pode não ser para outros aos quais se inserem num contexto artístico social e regional diferente. Faltou um pouco de embasamento e referencia biobibliografia em seu artigo. E deixar claro que essa “Triade”, NÃO NECESSARIAMENTE, funciona para qualquer estilo ou gênero musical (Arte). Concluindo ‘e uma busca pelo equilíbrio entre a “tríade” SIM, porem cada estilo estará focando em um determinado ponto, dependendo do estilo ao qual se trabalha. E segundo (Levy Strauss) isso já esta predefinido como padrões para cada tipo de estimulo musical (aqui também se chamando de gênero, semanticamente). Um enorme prazer e espero que continue com esse maravilhoso trabalho de divulgar conhecimento. Parabéns!

Hellen · 27/07/2019 às 10:06 pm

Puts, que página linda! Obrigada por tudo que você produz Edu! <3

Everson · 10/10/2019 às 2:24 pm

Show de bola, parabéns!
Ótima matéria!

Vera Silva · 17/10/2019 às 2:29 pm

Gostei muito do artigo do seu site. Estarei acompanhando sempre.Grata!!!

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