OS 5 TIPOS DE SÍNTESE SONORA 

Você já se pegou rodando um banco de presets em um VST durante horas até achar um timbre “mais ou menos”?

Já ficou horas procurando samples em suas pastas e ficou frustrado porque não encontrou o sample perfeito para o que você estava precisando?

Imagine se você pudesse dominar a síntese sonora e criar qualquer timbre do zero em um VST…

Não temos dúvida que esse é o sonho de qualquer produtor.

No entanto, o que acontece na maioria das vezes que abrimos um VST?

1 – Começamos ouvir os presets

2 – Rodamos a pasta inteira de presets

3 – Procuramos novos bancos de presets e os instalamos

4 – Passamos horas ouvindo os novos presets.

5 – Abrimos outro VST…

E esse ciclo continua, e continua e continua…

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Isso é o que eu chamo de Ciclo da Esperança.

Você fica perdendo horas e horas da sua vida rodando pastas de presets na esperança de achar um que se adeque à sua música em um determinado momento.

E antes de falar qual é a minha opinião sobre os presets, eu quero ressaltar quais são os problemas de você entrar no Ciclo da Esperança:

1 – Você perde horas, dias, semanas procurando presets.

2 – Falta coerência entre os timbres: A sua música fica parecendo uma colcha de retalhos, com um monte de pedaços de sons grudados.

3 – Centenas de outros produtores vão criar músicas com EXATAMENTE os mesmos elementos que você utilizou.

4 – Você se torna escravo da pasta. Se ela sumir, você não consegue criar mais nada.

E qual é a solução?

Dominar os aspectos básicos da Síntese Sonora. Simples assim!

Uma vez que você dominar os aspectos fundamentais da síntese sonora e conhecer o funcionamento dos VSTs e sintetizadores, a sua vida como produtor irá mudar de fase.

Continue comigo, pois no final desse artigo, você já vai ter conhecimento suficiente para colocar as suas produções em outro patamar.

A propósito, esse é o primeiro de uma série de artigos sobre síntese que eu tenho certeza que vão te ajudar muito!

Preparado?

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Antes de começarmos, eu quero dizer a minha opinião sobre os presets. Eu, particularmente, não acho errado usá-los. Eu acho errado não entender sobre síntese sonora, independente do estágio de produção que você esteja hoje.

Ou seja, se estiver começando, não perca seu tempo: estude síntese sonora!

Se você já é veterano: estude síntese sonora!

Os presets foram feitos para serem utilizados, mas desde que você tenha o conhecimento básico para moldá-los e adaptá-los ao contexto da sua música.  

Essa é a minha opinião! Outros produtores podem discordar de mim.

Alguns são extremamente “puristas” e não admitem utilizar samples e tampouco presets.

Outros são mais “liberais” e os utilizam sem nenhum critério.

Eu prefiro o caminho do meio, ou seja, eu utilizo presets, mas faço questão de estudar a síntese para sempre poder adequar os presets aos meus objetivos e, mais do que isso, aprender com os presets

Sem mais delongas. Mãos à obra!

O que é síntese sonora e quais são os diferentes tipos de síntese?

A primeira coisa que você tem que entender é que existem vários tipos de síntese sonora.  Dentre eles, podemos citar:

1 – Síntese Subtrativa

2 – Síntese Aditiva

3 – Síntese FM (Modulação de Frequência)

4 – Síntese por Wavetables

5 – Síntese baseada em samples (Sample-based)  

Entender a diferença entre os tipos de síntese é o primeiro passo. Vamos entender cada uma delas agora:

1 – Síntese Subtrativa

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Esse é o tipo de síntese mais comum, que faz parte da grande maioria dos VSTs e sintetizadores que estão disponíveis para a nossa utilização.

Se você já utilizou o Sylenth1, Tal-NoiseMaker, Discovery-Pro, Vanguard, Operator, Albino, dentre muitos outros, você já trabalhou com síntese subtrativa.

Para entender sobre a síntese subtrativa, você primeiro precisa entender sobre a rota da síntese em um VST (um assunto que será detalhado em outro artigo).

Mas, o que você deve saber é que o som é gerado nos osciladores.

Ou seja, em um VST, um oscilador gera uma onda.

Essa onda pode ser de vários tipos diferentes. Cada tipo de onda possui determinadas características.

Essas características são definidas pelos harmônicos.

As ondas mais comuns são:

  • Sine (Senoidal)
  • Saw (Dente-de-Serra)
  • Square (Quadrada)
  • Triangle (Triangulada)
  • White-Noise (Ruído-Branco)

Cada onda possui uma determinada quantidade de harmônicos.

O que são harmônicos?

Harmônicos são frequências múltiplas de uma frequência fundamental.

Por exemplo, uma nota na frequência de 55Hz corresponde à nota Lá.

Se multiplicarmos por 2, teremos a frequência de 110Hz, que também é um Lá, porém, uma oitava acima. O mesmo ocorre com a frequência de 220Hz, 440Hz e assim por diante…

Agora que você já sabe o que são os harmônicos, é importante relembrar que cada tipo de onda tem mais ou menos harmônicos. Por exemplo, a onda Senoidal possui somente a nota fundamental. Ou seja, ela é extremamente pobre em harmônicos, ao passo que a onda Dente-de-Serra é a que possui o maior número de harmônicos. Por isso, ela produz um som brilhante e complexo.

Vamos voltar ao oscilador. Você se lembra que o som é gerado por um oscilador, não é? Esse som que é gerado, possui um determinado número de harmônicos que é relativo ao tipo de onda. Sendo assim, o próximo passo da síntese subtrativa é filtrar esses harmônicos. Assim, começamos a esculpir e moldar os timbres. Para isso, trabalhamos com o filtro e o configuramos (principalmente) através do Cutoff.

Então, o som é gerado pelo oscilador e filtrado pelo filtro.

Estamos juntos até agora?

Ok!

Após manipular o conteúdo harmônico do som gerado, o mesmo passa por uma nova seção chamada Amplificador e, de lá, vai para a saída de áudio.

Entretanto, durante esse trajeto, o som ainda pode ser moldado, esculpido por outros elementos. Estes são os moduladores. Existem vários, mas os mais comuns são o Envelope ADSR e o LFO.

Falaremos desses caras no próximo artigo. Não se preocupe!

Portanto, meus senhores, é mais ou menos dessa forma que funciona a síntese subtrativa.

Entendeu o porquê do termo “subtrativa”?

2 – Síntese Aditiva

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                                        Hammond Organ. Fonte: Audiofanzine.com

A síntese aditiva é um outro método de criação de sons. Na verdade, esse foi o primeiro tipo de síntese inventado, décadas e décadas atrás. Lá pelos anos 30. É… bem velho mesmo! O grande clássico representante dessa escola da síntese é o Hammond Tonewheel Additive Synthesizer ou simplesmente Hammond Organ ou Órgão Hammond.

Ela é baseada na teoria “Qualquer som pode ser criado através da sobreposição de sinewaves”.

Em tese, a sine é a onda primordial e através da sobreposição de diversas ondas sine podemos dar origem a todo e qualquer tipo de onda. Existem cálculos matemáticos que provam isso!

Esse é o conceito básico da síntese aditiva.

No Hammond Organ, você vai encontrar 9 elementos que funcionam basicamente como osciladores que emitem, cada um, uma onda Sine em um determinado pitch. Você pode controlar a amplitude (volume) de cada um desses osciladores. Isso quer dizer que você tem milhares de combinações.

Em resumo, o som é gerado pela soma de até 9 ondas sine, em diferentes pitches e em diferentes volumes.

Se você utiliza o Logic-Pro, tem um simulador do Hammond lá, chamado Tonewheel Organ.

Em resumo, é isso!

Você já deve imaginar que isso é bem pouco utilizado hoje em dia, né?

Como eu disse, a maior parte dos instrumentos virtuais e sintetizadores se resume à síntese subtrativa!

3 – Síntese FM

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A síntese por modulação de frequência funciona da seguinte forma:

Ela utiliza uma onda para modular (aumentar ou diminuir) a frequência de outra onda. O resultado é um conjunto de frequências que não estavam presentes na primeira e nem na segunda onda.

Loucura né?

Eu sei que isso parece um pouco confuso. Mas vamos detalhar o assunto.

Imagine uma onda sine com uma frequência constante. Como você imagina o som dela?

Como um tom constante, não é?

Exatamente! É assim que o som será. Se você tem dúvida, abra um VST qualquer, escolha uma onda sine em UM (apenas um) oscilador (desligue os outros), e toque uma nota no teclado midi.

É isso!  Imagine essa onda sine.

Está imaginando? Ok!

Agora imagine que eu vou usar uma outra onda sine, com uma frequência muito baixa, para controlar o TOM (pitch) da primeira.

Desta forma, toda vez que a minha segunda onda sobe, o tom da primeira sobe junto. Quando ela desce, o tom da primeira também desce.

Imagine então o tom subindo e descendo. Vamos ter mais ou menos o som de um sirene.

A onda sine de baixa frequência que controla a segunda onda é nada mais do que um LFO. Isso faz com que surjam inúmeras frequência em torno da frequência fundamental, criando-se assim timbres muito ricos.

Recapitulando…

Na síntese subtrativa, você começa com uma onda que tem abundância de harmônicos e os remove seletivamente com um filtro para obter os timbres desejados.

Já na síntese FM, você cria os seus diferentes sons controlando as frequências relativas do modulador e segunda onda (que é chamada de Carrier).

A síntese FM é muito útil para criar sons que são difíceis de conseguir com os outros tipos de síntese, como sons metálicos, de sino (bells) ou sons de lata. Estes sons tendem a ser cheios de tons inarmônicos, o que seria necessário uma quantidade razoável de equipamentos para gerá-los com a síntese subtrativa.

O representante clássico da síntese FM é o Yamaha DX7. Já nos instrumentos virtuais, podemos citar o FM8 e o EFM (nativo do Logic).

4 – Síntese por Wavetables

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Nos primeiros sintetizadores, os osciladores eram capazes de gerar alguns tipos de onda somente, tais como sine, triangle, saw e square/pulse. Somente isso já nos deu um espectro infinito de sons básicos, especialmente quando diferentes ondas eram combinadas entre si.

E assim estávamos muito bem, obrigado. Até que em meados da década de 70 surgiu o conceito de wavetables.

Que diabo é isso?

A partir do momento em que se pôde introduzir o uso de osciladores digitais no mercado, ao invés de ter somente  3 ou 4 formatos de onda para trabalhar, um oscilador wavetable poderia ter 64, porque, como já disse, era digital, podendo estocar esses diferentes formatos de onda em um esquema parecido com uma mesa.

Sem dúvida, isso trouxe uma paleta sonora muito mais abrangente para as produções.

E você não precisa de um botão para trocar as waveforms. Você pode utilizar envelopes e LFOs para transitar entre cada uma das suas 64 ondas.

Uma vez que as ondas são organizadas de uma determinada maneira, podemos criar um certo movimento harmônico para o som.

Explico…

Imagine que a sua onda 01 seja uma sine e a onda 64 seja uma square, brilhante e cheia de harmônicos. Imagine que da onda 02 a 63, as ondas vão se transformando gradualmente, ganhando harmônicos até se transformarem na square.

Isso é como um filtro, um sweep. É como um movimento de abertura do cutoff, porém, menos sutil.

Agora, as coisas começam a ficar interessantes na síntese Wavetables quando as ondas não são relacionadas, ou seja, não se sabe o que vai acontecer entre uma onda e outra, tornando o som completamente imprevisível.

Então, wavetable é o nome dado a um pequeno “pedaço” de áudio digital (que pode ser um sample ou waveform). Este pequeno pedaço de áudio é tocado de uma maneira cíclica (loopada).

A frequência, ou seja, o pitch, da nota resultante é criado pela taxa em que a waveform é tocada (a velocidade entre as repetições).

Nos VSTs mais modernos, como o X-Fer Serum, você pode ter até 256 ondas de ciclo único. Em circunstâncias normais, você ouve uma delas de cada vez, mas você pode automatizar o parâmetro que controla as posições das ondas (que no Serum é o WT Pos) para ter sons incríveis.

Tecnicamente, você também pode ouvir várias ondas da mesa ao mesmo tempo ativando o parâmetro Unison (uníssono).

Os principais representantes desse tipo de síntese hoje em dia são o X-Fer Serum e o NI Massive.

São VSTs mais complexos e que têm funcionalidades incríveis.

Se você está começando a estudar síntese sonora agora, eu sugiro que você escolha aprender em um VST mais simples, como o Tal-NoiseMaker ou o Operator (nativo do Ableton) etc.

5 – Sampling

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Essa última categoria não é bem um tipo de síntese, mas faz parte da rotina de todo produtor. Em resumo, “samplear” é utilizar qualquer arquivo de áudio proveniente de inúmeras fontes.  

Desta forma, qualquer pedaço de arquivo de áudio é, teoricamente, um sample e você pode manipular e transformar o mesmo, adaptando-o ao contexto da sua música.

Vale ressaltar que, quando você retira pedaços de músicas de outros artistas, como vocais ou melodias, você pode estar infringindo a lei de direitos autorais. Essa prática tem se tornado comum nos dias atuais, mas eu, particularmente, não recomendo. Além de infringir a lei, você está roubando parte da produção de outros artistas.

Sendo assim, a melhor forma de trabalhar com samples é adquirir os pacotes de empresas que os produzem exatamente para essa finalidade. Portanto, são royalty-free. Isso quer dizer que, uma vez que você adquire o pacote, tem o direito de utilizar os samples tranquilamente em suas músicas.

Algumas empresas possuem pacotes bem legais, como a Vengeance (extremamente comum e “batido”), Mutekki, LoopMasters, dentre muitas outras. Basta dar uma pesquisada no Google e você vai encontrar toneladas de opções. Muitas dessas empresas ainda fornecem amostras-grátis (mini-pacotes de samples).

Eu, particularmente, sugiro que você não tenha uma biblioteca com dezenas de gigabites de samples. Isso vai acabar confundindo sua cabeça e roubando o seu tempo. A minha recomendação é que você escolha bem os samples da sua biblioteca e que os conheça bem, se familiarize com eles.

Como trabalhar com samples?

Esse é um tópico bastante extenso e que será trabalhado em outro artigo, mas, basicamente, você pode trabalhar com os samples diretamente no grid do seu software (simplesmente jogando eles lá) ou através de um sampler.

Vamos esclarecer uma coisa, caso você ainda não saiba:

SAMPLE = Arquivo de áudio (pode sem WAV, MP3, AIFF etc.)

SAMPLER = Instrumento que manipula os samples.

A maioria das DAWs hoje em dia tem um sampler nativo. No Ableton, temos o Simpler e no Logic temos o EXS24, além do Ultrabeat (mais específico para bateria).

Além desses, temos excelentes samplers no mercado, tais como o Battery 4 e o famoso Kontakt, ambos da Native Instruments.

Eu gosto muito do Battery, pela simplicidade, por ser bastante intuitivo e por permitir que você manipule os samples de inúmeras formas. Com ele, as possibilidades são infinitas. Você pode “tunar” (alterar o tom), inverter, modular, esculpir, aplicar efeitos… muita coisa.

Já o Kontakt é famoso pelas bibliotecas que você pode adquirir. Com elas, você tem a reprodução fiel de basicamente qualquer instrumento que existe, desde uma harpa até instrumentos de percussão de tribos africanas.

Tanto o Battery como o Kontakt são um estudo longo. Vale a pena parar para ler o manual, assistir tutoriais ou, melhor ainda, adquirir algum curso específico.

Eu encontrei um curso bem legal e bem acessível sobre o Kontakt e você pode encontrá-lo AQUI. Achei o preço bem acessível.


Esses são os principais tipos de síntese sonora. É claro que existem muitos outros. Mas, conhecendo esses, você já tem condições de voar em suas produções. Eu garanto!

Caso você esteja sério na decisão de dominar a síntese sonora, eu recomendo o programa  HACKEANDO TIMBRES


eduardojuliato

Eduardo Juliato se apaixonou pela música eletrônica em 2004, quando começou a frequentar as primeiras raves. Em 2005 começou a sua carreira como DJ e em 2009 como produtor. Em 2014 fundou a PME-Experts, uma escola online de produção de música eletrônica que hoje possui mais de 10 cursos e já ultrapassou os 2700 alunos. Seus conteúdos impactam semanalmente cerca de 30 mil pessoas nas redes sociais. Com seu projeto Sakyamuni, focado em Progressive Psytrance, tem lançado em importantes selos internacionais, como a Zenon Records, Soulectro e Weapon e tem se apresentado em todo o Brasil e em outros países como Peru, Bolívia e República Tcheca.

8 comentários

junior · 01/03/2016 às 1:49 am

muito bom

    eduardojuliato · 01/03/2016 às 5:27 pm

    Obrigado, Junior!

Ronielder · 01/03/2016 às 5:20 pm

Ótimo artigo! aguardando pelos próximos.

    eduardojuliato · 01/03/2016 às 5:27 pm

    Eba! Obrigado! Logo mais tem mais! hehe =)

Victor · 12/07/2016 às 5:57 pm

O operator não é síntese FM não?

Carlos Henrique de Souza · 23/11/2016 às 6:47 pm

Parabéns! tem feito um ótimo trabalho.

Paulo · 29/07/2019 às 11:32 pm

Vc é fera meu amigo!

Milton Monteiro · 03/10/2019 às 10:18 pm

Meus parabéns Eduardo, você foi a fundo!

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