Lição #1: Como Produzir Músicas que Incendeiam as Pistas e Mantém o Público Hipnotizado Enquanto Você Toca!

Naquele dia, tomei um "enquadro" da polícia e fiquei em pânico!

Salve salve produtor,

 

Era meados de Novembro de não muito tempo atrás e eu havia sido convidado para me apresentar, com meu projeto Sakyamuni, em um festival relativamente grande aqui em São Paulo.

Convidei um primo e uma amiga para irem comigo, além da Pri, minha namorada. No local do evento, havia uns chalés de madeira para locação. Decidi optar pelo conforto. Era bem pequeno, mas tinha um chuveiro e 3 camas, o suficiente.

Chegamos na sexta-feira à noite e a sonzeira já estava rolando. Dava pra ouvir a "darkeira" do nosso chalé. Ansiedade para descer pra pista logo!

Eu estava programado para tocar no domingo à tarde. Meu primo e minha amiga nunca tinham ido a uma rave. Eu queria muito mostrar a eles como é uma festa de verdade.

A festa estava linda, com sound-system de primeira e várias intervenções artísticas. A pista lotada não parava de bombar um segundo. A cada DJ que entrava, eles ficavam mais eufóricos. Meu primo olhava pra mim e, às vezes, comentava "nossa, parece que os DJs fazem uma mágica para comandar a pista".

Eu só ficava imaginando que logo chegaria a minha vez de emocionar aquela galera. Eu respondia, com uma autoconfiança beirando a arrogância:

Sim, é o que nós fazemos! Você vai ver a hora que o primão entrar...

Depois de curtir a festa por 2 dias, foi chegando o meu momento de tocar.

Frio na barriga!

- "Será que vão gostar do meu som?"

- "É claro que vão. Eu sou o Sakyamuni, já lancei por várias labels, já ensinei tanta gente a produzir...", dialogava mentalmente comigo mesmo, tentando me convencer que eu era bom o suficiente para estar ali.

Era final de festa e muita gente já tinha ido embora, outros estavam arrumando as mochilas, desmontando as barracas. Aquelas milhares de pessoas que estavam BOMBANDO horas atrás, agora já estavam com as baterias "na reserva".

Eu olhava pra elas implorando mentalmente para não irem embora...

O DJ que estava tocando antes de mim simplesmente estava destruindo a pista! As pessoas estavam nitidamente exaustas, mas arranjavam um restinho de energia para bombar nos drops.

Até que chegou a minha vez de tocar!

Apesar do frio na barriga de sempre, eu entrei confiante e já soltei uma música que havia terminado recentemente. Pensei "essa já vai começar quebrando tudo".

E, para minha surpresa, NÃO funcionou!

A pista ficou simplesmente parada, estática. Muitos foram embora e pouca gente restou alí.

Tudo bem, já era final de tarde do domingo, final de festa, todo mundo cansado. Mas, o que me deixou intrigado é que, 10 minutos atrás, a pista estava bombando ainda, mas de alguma forma, parece que a minha música não estava funcionando. 

No final da minha apresentação, não tinha muito mais do que 100 pessoas na pista. Alguns alunos, amigos que ficaram pra me ver e o povo do bar e das barraquinhas, além dos seguranças que estavam loucos para irem embora.

No fundo, eu sabia que eu seria o último artista e que seria assim.

Mas, eu confesso que eu esperava uma reação muito diferente com as minhas músicas.

Voltando pra casa, bastante decepcionado, depois de ter gasto uma boa grana na festa, da decepção com o set e de não ter recebido cachê, fomos parados pela polícia.

Meu primo estava dirigindo o carro e eu estava no banco do passageiro...

Era um comando pesado, na entrada da cidade.

Apontando a lanterna para o rosto do meu primo, o policial perguntou de onde estávamos vindo.

E o meu primo, inocentemente, respondeu: "Da rave".

- "Todo mundo pra fora do carro. Onde estão as balinhas?"

- "Senhor, não tomamos isso"

-"E vocês acham que eu sou trouxa?"

-"Não, senhor. É que meu primo é DJ e foi tocar e nós fomos acompanhar."

-"Então, vamos fazer o exame de bafômetro".

Naquele momento, eu me estremeci. Não tínhamos qualquer tipo de droga no carro e tampouco tínhamos ingerido na festa.

Mas,  havíamos tomado várias cervejas durante o dia.

Tudo bem que já era por volta das 22h, mas naquele momento, cansado, exausto e decepcionado, eu ainda pensei que teríamos que ir para a delegacia e passar mais stress.

Por sorte, o bafômetro não acusou nada e voltamos rindo para casa.

Mas, por dentro, eu estava triste!

A Pri, minha namorada, percebeu e ficou tentando me animar...

"amor, era final de festa, as pessoas estavam cansadas, elas já iriam embora de qualquer jeito".

Tudo bem, eu  entendi. Mas, se eu tivesse tocado OUTRAS músicas, tenho certeza que as pessoas reagiriam de outra forma.  Algumas de minhas músicas funcionaram bem mas outras tinham problemas. FATO!

Depois desse episódio, comecei a estudar profundamente as músicas que realmente funcionavam na pista. Em outras palavras, eu estava decidido a descobrir os segredos para incendiar as pistas e deixar as pessoas dançando como se não houvesse segunda-feira.

A Habilidade Mais Importante de Todas e Que Poucos Produtores Dominam de Verdade

O que vou revelar nas próximas linhas pode ser chocante e pode ser que você não concorde comigo. Mas isso me fez mudar completamente a visão que eu tenho sobre a relação da música eletrônica e a pista!

Depois do episódio de chateação com aquela apresentação, eu comecei a pesquisar sobre o que, de fato, fazia uma música funcionar e outra não. Comecei a encontrar uma série de livros em inglês sobre songwriting.

Esses livros abriram a minha mente para um novo conceito. Algo que me chocou profundamente. Praticamente tudo o que eu sabia sobre construção de música eletrônica estava equivocado!

Preste muita atenção no que eu vou lhe dizer agora.

Pare por alguns segundos e pense no VERDADEIRO MOTIVO pelo qual você produz. Tente ser o mais honesto possível com você mesmo. Quais são os motivos que te fazem produzir?

  • Ser reconhecido?
  • Tocar nos melhores horários?
  • Ganhar bons cachês?
  • Ter seu nome em destaque nos flyers?
  • Tem milhares de fãs e seguidores?

Não importa exatamente qual é o seu verdadeiro motivo. Mas uma coisa é certa:

Durante muito tempo, eu acreditei que as qualidades que diferenciavam um grande produtor eram suas habilidades de sound-design e mixagem.

Entretanto, NÃO é o sound-design ou a mixagem ou as técnicas ultra-secretas de produção que você aprendeu com os anciãos do Himalaia que irão definir o seu sucesso... é o público!

É claro que sound-design, mixagem e técnicas avançadas são importantes. Mas quem define o seu sucesso é o público. E existe um único fator que os grandes produtores utilizam em suas músicas que é capaz de encantar e literalmente hipnotizar o público.

Quando eu tive esse insight, foi como se eu tivesse renascido.

Antes de revelar qual é esse fator e como você pode utiliza-lo na sua próxima música, eu preciso te contar uma historinha bem pequena, mas que é essencial para o entendimento deste conceito. É o desabafo de um produtor:

"Eu comecei usando loops de bateria. Logo, achei que usar loops prontos era trapaça. Então, passei a construir meus próprios loops com samples. Mas, eu achei que usar samples era trapaça. Decidi, portanto, a gravar os meus próprios samples. Mas, mesmo assim, senti que estava trapaceando. Então, decidi aprender a tocar bateria de verdade. Logo, pensei que tocar uma bateria comprada era trapaça. Decidi fabricar a minha própria bateria. Depois disso, pensei que utilizar peles compradas era trapaça. Decidi fabricar as minhas próprias peles. Então, encontrei um bode, matei e peguei a pele. Mas, mesmo assim, achei que estivesse trapaceando. Decidi, portanto, criar o meu próprio bode. Ainda acho que estou trapaceando. Mas não sei mais para onde ir. Eu não terminei nenhuma música recentemente..."

Essa historinha engraçada reflete uma dura realidade na vida de todo produtor, a de que existe uma linha tênue entre ego, vaidade, arte e sucesso.

No final das contas, o público, que é o verdadeiro motivo pelo qual nós produzimos, não sabe de onde veio os seus samples, loops, presets... ele nem sabe se você utilizou um compressor multibanda no grupo de bateria. Inclusive, ele nem sabe o que é um compressor e talvez nem saiba o que é a bateria.

Mas, o público está interessado em uma única coisa:

MÚSICAS QUE CONTAM HISTÓRIAS

 

 

Na música eletrônica, não importam os MEIOS, somente os FINS.

Não importa se você vai utilizar samples, loops, pele de bode que você mesmo matou, se você vai criar tudo do zero em um VST ou se você vai gravar instrumentos reais em um estúdio.

Se você quer incendiar as pistas e manter as pessoas hipnotizadas enquanto você toca, você precisa se concentrar na habilidade de criar HISTÓRIAS com sua música!

Esse é o principal erro que a maioria dos produtores comete e que os fazem fracassar miseravelmente no mercado!

Mais uma vez, eu quero que fique bem claro:

Eu não estou dizendo que desenvolver habilidades técnicas não é importante. Mas, elas, por si só, não te levarão a lugar algum e, mais do que isso, farão as pistas brocharem.

Acredite em mim:

É muito doloroso você estudar tanto, investir tanto, se matar de trabalhar em um projeto e depois, quando está tudo pronto e você acha que vai bombar, você simplesmente BROCHA a pista!

Eu não quero que você passe por isso!

O público quer EMOÇÃO!

E o seu sucesso está diretamente relacionado à sua habilidade de emocionar o público.

Para emocionar o público, você precisa aprender a contar histórias!

Não importa de onde virão os ingredientes, se você vai criar tudo do zero ou se vai usar loops e samples, desde que você crie BOAS HISTÓRIAS!

Histórias engajam e conectam desde sempre. Na música, não é diferente!

A sua habilidade de criar boas histórias através de sua música é o que vai fazer com que o público fique hipnotizado.

É exatamente isso que as séries do Netflix e os filmes da Marvel fazem:

Criar histórias que engajam e conectam.

Na música eletrônica, o princípio é o mesmo!

POR FAVOR, PARE DE SE MALTRATAR!

Aprenda como criar histórias antes de qualquer outra coisa.

Gravei um vídeo rápido mostrando como as histórias são contadas na música eletrônica:

 

Os 2 Elementos-Chave Para Criar Histórias

Existem 2 elementos-chave que você precisa dosar corretamente em cada seção da sua música. São eles os verdadeiros responsáveis pela criação de histórias: 

  • Tensão
  • Energia (Hype)

Existe um correto equilíbrio entre Energia e Tensão em cada uma das seções da sua track.

Uma história é construída por capítulos ou cenas. Traduzindo para a música, você vai ter também diferentes capítulos.

  • Introdução
  • Versos
  • Break
  • Build Up
  • Outro

Em cada capítulo, existe uma dosagem certa de tensão e energia.

O grande erro que eu vejo a maioria dos produtores cometendo (e que eu cometi por muitos anos) é não construir uma história com variações de energia, não construir um clímax, não abaixar a energia e tensão na hora certa...

Isso faz o público dispersar e querer ir embora.

Observe as músicas dos grandes artistas! Elas te levam para outros mundos.

O grande segredo é saber dosar corretamente os níveis de tensão e energia em cada uma das partes da sua música.

Mas esse será o assunto da próxima lição. rsrs..

 

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